DEPOIMENTOS
ARTIGOS
A Técnica Alexander entrou em minha vida quando estava com sérios problemas de saúde. Ela me ajudou a recuperar o equilíbrio físico e mental. Há quinze anos faz parte do meu cotidiano, permitindo que eu exerça a minha profissão de maneira saudável e as minhas atividades pessoais de forma prazerosa.
Nessa trajetória de mais de quinze anos, tenho o privilégio de ter Mirna F Paiva como orientadora. Profissional altamente qualificada, é possuidora de sensibilidade. Dotada de múltiplos talentos, transmite o conteúdo com segurança, simplicidade e amabilidade.
Rosana Civile
Pianista do Teatro Municipal
Há alguns anos fui diagnosticada com surdez súbita, no ouvido direito, e acredito que a técnica Alexander foi fundamental para meu pronto restabelecimento. Já na primeira sessão senti um som vindo para o ouvido direito. Com acompanhamento de audiometria, foi constatado que além da audição voltar para o ouvido direito, o ouvido esquerdo foi beneficiado sensivelmente. Apesar do otorrinolaringologista não acreditar que a audição pudesse voltar, já que cheguei em seu consultório depois de 72 horas, o resultado do tratamento com a técnica Alexander foi 100. /. eficaz. Vale lembrar que o tratamento, com a terapeuta Mirna F Paiva, começou depois de 72 horas do diagnóstico de surdez súbita. Além da volta da audição, todo meu físico foi beneficiado com esse tratamento, já que a técnica Alexander traz a consciência do corpo como um todo.
A delicadeza e profissionalismo da terapeuta Mirna foi fundamental para o êxito do tratamento. Gratidão eterna.
Bethy Costa
Jornalista
Era uma segunda feira dolorida: há três dias na cama, por conta de um mau jeito na coluna. Travada na cama, praticamente sem dormir, não conseguia me locomover sozinha. Tinha uma perna repuxada e muita dor! Cheguei ao consultório da Mirna por indicação de um conceituado médico, em minha cidade. Saí do carro ajudada por meu namorado, quase chorando de dor. Posicionando as mãos em locais que eu nunca imaginaria tocar, Mirna foi acalmando minha dor, colocando minhas costas “no lugar”. Naquele dia, saí andando normalmente, praticamente sem dor. Com mais duas sessões, estava boa. Hoje dez anos após esse fato (e cinco anos de encontros semanais/mensais), tenho a capacidade de me perceber e me trabalhar e, desde então, nunca mais fiquei com a coluna travada. Recebi a bênção chamada Técnica Alexander, por intermédio de uma pessoa incrível chamada Mirna.
Emilia Frazão
Psicoterapeuta
Bem, tudo começou...bem não sei ao certo rs, mas sei que li sobre a técnica antes de adquirir um pólipo na garganta, que me deixava rouca, que quando apareceu, lembrei me dela. Fui no site da ABTA e dessa vez tinha um professor perto de mim, a Mirna! Difícil não gostar da Mirna e do trabalho dela, pois ela exerce com muita paixão. Primeiramente o meu objetivo foi a questão da rouquidão, mas menos de três meses depois de começar as aulas me descobri grávida, e começamos a trabalhar isso também. E foi sensacional, pois tenho uma lordose que totalmente trabalhada de forma a não doer a gestação toda. Também foi muito importante para o parto com o trabalho de vocalização e de presença, de não ficar na dor, de habitar a cabeça. Enfim, virei uma apaixonada pela técnica e pelo estudo de Alexander, e ficou muito marcado esse aprendizado do corpo, essa memória que carregamos e que quando resgatamos nos faz muito bem. E conhecer essa técnica pelas mãos hábeis da Mirna foi maravilhoso, um presente do Universo, pois sinto que tive acesso à essência de uma técnica tão antiga, mas tão atual.
Denise Varejão
Engenheira
Artigo escrito por Aldous Huxley (Escritor do livro Admirável Mundo Novo, aluno de Alexander) para
The Saturday Review of Literature, London, outubro de 194
BUSCA DOS FINS E MEIOS PELOS QUAIS
Pregar é uma das mais importantes profissões e um dos hobbies mais comuns. Cerca de um décimo de toda a raça humana passa todo o seu tempo ou a maior parte dele dizendo aos outros nove décimos que objetivos que eles deveriam buscar, e como eles deveriam agir, pensar e sentir, para agradar a Deus, manterem-se saudáveis, integrar-se no mundo e promover o bem-estar da comunidade. Uma parte de tais conselhos é categoricamente perniciosa; mas a maior parte deles é bem fundamentada, e nem uma pequena parte que seja destes está em acordo com o mais alto idealismo ético e religioso.
Qual é o efeito de toda esta pregação sobre os que ouvem? E sobre os que pregam? As manchetes dos jornais fornecem uma resposta terrivelmente deprimente para a primeira pergunta. A resposta para a
segunda não é menos desanimadora; pois se lermos as biografias de idealistas já falecidos, se mantivermos contato com as pessoas que estão ativamente envolvidas em dizer o que se deveria fazer para ser salvo física, moral, política e espiritualmente, deveremos perceber que grande parte dos que pregam falham em praticar o que pregam. Decerto encontraremos filósofos cujas vidas são incorrigivelmente irracionais e más; líderes religiosos à mercê de suas paixões e preconceitos, médicos que, ignorando suas próprias regras de saúde vivem frequentemente acometidos por doenças, políticos cuja conduta em assuntos de estado é abertamente criminosa; educadores profissionais que apresentam em sua conduta a vaidade e imaturidade de uma criança. Uma árvore é conhecida por seus
frutos, e, através de um estudo dos frutos da pregação, é evidente que há algo decididamente errado com esta árvore.
Temos uma intuição direta dos valores de uma moral e ideais religiosos mais elevados, e sabemos empiricamente que os métodos aceitos de se inculcar tais ideais não são muito eficazes. Políticos podem lançar reformas sociais de grandes proporções, destinadas a melhorar o mundo, mas tais reformas não podem obter mais do que apenas uma fração do resultado que delas é esperado se os educadores não descobrirem meios pelos quais aqueles que pregam e aqueles que ouvem possam levar adiante suas boas intenções e praticar o que é pregado. Construir esta ponte entre a teoria idealista e a prática efetiva tem se provado tão difícil que até agora homens e mulheres simplesmente esquivaram-se do problema. Pois ambos têm continuado a pregar e ensinar como no passado, apesar do fato de os velhos métodos de educação serem somente cerca de dez por cento eficazes. Ou então, tendo percebido que ainda não há uma ponte que transponha o abismo entre a teoria e a prática, voltaram-se contra os que pregam e até mesmo contra os ideais por eles pregados. Não levando em consideração o fato que o cinismo e o fanatismo cego são igualmente desastrosos, eles tomaram-se niilistas morais e intelectuais, e continuaram, sob o encanto de algum demagogo cativante, a serviço da pseudo religiões idolátricas, tais como o nacionalismo, o fascismo ou o comunismo. Enquanto isso, o problema original permanece não
solucionado, e as circunstâncias da época tomam-se cada vez menos favoráveis à solução racional de qualquer problema social ou psicológico.
Até o presente momento somente foram descobertas duas soluções para o problema de se encontrar a ponte para o abismo que há entre a teoria idealista e a prática efetiva. A primeira delas, que é bem antiga, é a técnica dos místicos de transcender a personalidade através de uma consciência progressiva da realidade absoluta. A segunda solução, que é bem recente, foi descoberta há cerca de cinquenta anos atrás por F. M. Alexander e pode ser descrita como uma técnica para o uso correto de si mesmo, um método para o controle consciente de todo o organismo psicofísico.
A descoberta fundamental de Alexander que existe no homem, como em todos os outros vertebrados, um controle primordial que condiciona o uso adequado do organismo como um todo. Quando a cabeça está em relação apropriada com o pescoço, e o pescoço está em relação apropriada com o tronco, então (e aqui é uma questão de puro fato empírico) todo o organismo psicofísico está funcionando no melhor de sua capacidade natural.
Quando, por qualquer razão, a coordenação entre cabeça, pescoço e costas é perturbada, incorre-se no mau uso do organismo psicofísico. Os animais em seu estado natural, e os seres humanos em condições
primitivas fiam-se no instinto para manter o mecanismo do controle primordial funcionando da maneira como ele deveria funcionar. Mas com o surgimento da civilização, o meio ambiente começa a mudar com
velocidade cada vez maior. Os seres humanos são continuamente forçados a se adaptar a circunstâncias não familiares. Eles tomam-se perturbados, e sua confusão interfere com seus instintos. Disto resulta que o controle primordial cessa de ser exercido, e incorre-se então em um mau uso de si mesmo.
O uso incorreto de si mesmo gera condições físicas e mentais que precisam urgentemente de cura e reforma. Mas todas as tentativas de cura e reforma estão, de certa forma, destinadas a um completo insucesso.
Enquanto seu controle primordial e o dos que os cercam permanecer falho, tudo que até mesmo os mais bem-intencionados reformadores podem fazer por si mesmos e pelas outras pessoas não pode resultar em nada além da perpetuação e talvez na intensificação do presente mau uso de si mesmo.
Nós todos, como Alexander diria, buscamos os fins. Temos objetivos atrás dos quais corremos sem nunca considerar os meios pelos quais nós, como organismos psicofísicos, possamos atingi-los da melhor forma. A maior parte da educação é orientada à busca dos fins. Nós impelimos nossos filhos a alcançar objetivos de conhecimento, moral e saúde, sem instruí-los quanto ao uso adequado do organismo psicofísico que se usa para alcançá-los. A consequência é que estes bens são alcançados imperfeitamente e a um alto preço, em termos de mau funcionamento.
Alguns educadores, é verdade, prestam atenção aos meios pelos quais, mas infelizmente eles não sabem nada do controle primordial que assegura o bom uso de si mesmo. Em sua ignorância, eles tentam eliminar defeitos e estabelecer melhoras através de um processo de ataque direto. Mas tais ataques diretos não podem, devido à natureza das coisas, ser eficazes.
É verdade, sintomas negativos podem ser aliviados por métodos diretos, e, até certa medida de resultados positivos parciais pode ser alcançada, mas estes resultados são sempre obtidos a um alto preço. Porque, se há falhas no controle primordial, todas as atividades intensas, não importam o quão bem-intencionadas sejam e quaisquer que sejam os resultados parciais por elas alcançados, podem no máximo fixar os hábitos de mau uso. Isto significa que qualquer bom resultado alcançado será acompanhado de produtos secundários nocivos que podem na realidade pesar mais, se não imediatamente, então ao longo do tempo.
Em todos os aspectos da vida, é só através de uma abordagem indireta que os bens mais substanciais são alcançados. Portanto a religião não tem valor se procura vantagens imediatas para o devoto. Para o místico, é axiomático que ele deve procurar em primeiro lugar o reino de Deus e sua correção.
Da mesma forma, o moralista percebe que a felicidade não é alcançada pela busca direta da felicidade. Felicidade é uma consequência, o resultado da busca de outros fins que não a felicidade, por outros meios que não somente os meios agradáveis. Analogamente, a correção completa dos maus hábitos
físicos ou mentais não será alcançada por tratamentos ou exercícios destinados a aliviar sintomas corporais específicos, nem por intenções de mudar os padrões de pensamento e comportamento, mas somente indiretamente, aprendendo a dominar o controle primordial do organismo como um todo.
A técnica de obter domínio do controle primordial pode ser aprendida sem ajuda, como Alexander a aprendeu em frente a seus espelhos, cinquenta anos atrás. Mas as dificuldades no caminho do autodidata são tão grandes que a maioria das pessoas achará quase impossível inibir as tendências para os maus hábitos de uso, e adquirir bons hábitos, sem a ajuda de um professor experiente.
No presente momento existem no mundo somente poucas dezenas desses professores. Alexander teve que fazer seu trabalho de treinamento praticamente sozinho e sem apoio oficial. As pessoas que controlam a máquina educacional ignoram sua descoberta.
Ao invés de trabalhar para tornar disponível para todos esta nova ponte entre teoria idealista e prática efetiva, eles desperdiçam seu próprio tempo e o de seus alunos em cruzadas pela Educação Liberal, Educação Moderna,
Educação Científica, ou o que quer que seja; em classificar os Cem Melhores Livros, em conduzir acirradas disputas metafísicas entre Tomas de Aquino e William James. Em nenhum momento, parece ocorrer-lhes
que pouco adianta ler os melhores livros, ou os mais científicos, ou os mais modernos, ou os mais medievais, a não ser que o leitor disponha de uma técnica que lhe permita implementar na prática psicofísica os ideais expostos nestes volumes.
Somente duas técnicas tais, eu repito, foram descobertas - a de Alexander, e a dos místicos orientais e Cristãos. Místicos Cristãos sempre tenderam a negligenciar o lado físico do organismo total, resultando que tomaram sua abordagem extremamente indireta para o controle supremo de todos os controles ainda mais árduos do que deveria ser no curso natural das coisas. Contemplativos orientais não incorreram no erro de ignorar o corpo. Dentre as práticas físicas que eles desenvolveram, a maioria é
relacionada à produção direta de certos estados e sintomas; no entanto, poucas parecem objetivar, apesar de isto não ser especificamente afirmado, o domínio do controle primordial psicofísico
Seja como for, o fato é que a técnica de Alexander para o domínio do controle primordial está agora disponível, e que ela pode ser combinada, da forma mais proveitosa, com a técnica dos místicos para transcender a personalidade através de uma crescente consciência da realidade absoluta. É agora possível conceber um tipo de educação totalmente novo que influencie toda a extensão das atividades humanas, desde a fisiológica, passando pela intelectual, moral e prática, até a espiritual - uma educação que, por ensinar a crianças e adultos o uso correto de si mesmos, iria preservá-los da maioria das doenças e dos maus hábitos que os afligem hoje em dia; uma educação cujo treinamento
na inibição e no controle consciente feneceria a homens e mulheres meios psicofísicos de comportar-se racional e moralmente; uma educação que, em suas mais altas esferas, tornaria possível a experiência da realidade absoluta.
Para os que estão interessados nas possibilidades de uma nova e mais eficaz educação, eu sinceramente recomendo a dos livros do Sr. Alexander. Em “The Universal Constant in Living” eles acharão, junto com um grande número de fatos interessantes, a sabedoria amadurecida de um homem que, começando a cinquenta anos trás a descobrir um método para recuperar sua voz perdida, chegou, pelo mais antigo dos caminhos sinuosos, a ser um filósofo, educador e fisiologista de inigualável importância, por ser inigualavelmente prático.
ARTIGO DE INTERESSE AOS MÚSICOS
Artigo extraído do The Saturday Review of Literature, outubro de 1941.
Tradução: Rafael Reif
Revisão: Roberto Reveilleau
A AVENTURA DE UMA PIANISTA COM A TÉCNICA ALEXANDER
Nelly Ben-Or
Concertista e professora revê 30 anos de sua abordagem para a execução ao piano através da Técnica Alexander.
De acordo com um ditado Zen: "Antes de um homem embarcar no caminho Zen ele vê Rios como Rios e Montanhas como Montanhas. Quando ele começa a seguir o caminho, para ele Rios não são mais Rios e Montanhas não mais Montanhas; porém trinta anos mais tarde Rios são Rios e Montanhas são Montanhas". A experiência de mudanças nos padrões dos hábitos pode ser inicialmente empolgante, entretanto, não acontece sem que as acompanhem reações de confusão, espanto ou ressentimento. No entanto, conforme o tempo passa e algumas destas mudanças criam raízes em nós, começamos a contar com seus efeitos, como se as coisas sempre tivessem sido assim.
Em meu próprio trabalho como pianista observei que alguns aspectos da execução pianista que eu hoje em dia considero como simples e diretos não o eram há vinte ou trinta anos atrás. Algumas mudanças profundas aconteceram no modo com que me relaciono com a execução ao piano. Ocasionalmente ao
ensinar, quando me confronto com um problema específico trazido a mim por um pianista mais jovem, eu percebo até que ponto eu agora conto com a ausência de dificuldade semelhante em meu próprio executar. O mesmo problema, que para mim também já foi uma vez um desafio, se tornou algo do assado. Depois que comecei a aprender a Técnica Alexander muitos detalhes técnicos da execução pianista se tornaram bem mais fáceis ou não se tomaram mais difíceis do que eram antes de eu ter começado.
Com os anos de trabalho com a Técnica, acontecem mudanças que erradicam os problemas de execução gerados pelo mau uso - problemas que cada um inconscientemente cria paia si. Isto é verdade na nossa existência diária em geral, mas provavelmente até mesmo mais evidente no tocante a algumas habilidades altamente desenvolvidas ou técnicas artísticas. Normalmente o desenvolvimento de uma grande habilidade, tal como a necessária para a execução de alto nível de um instrumento musical, é ajudado em seu curso por vários professores. Estes professores frequentemente ao ensinar passam adiante seus próprios modos errados de uso, os quais podem compor o mau uso resultante da falta de uma compreensão clara de como nós funcionamos como uma entidade psicofísica.
Para desenvolvermos uma habilidade complexa nós realmente precisamos entender a íntima interação mente-corpo em nosso funcionamento total, de forma que nós não tentemos desenvolver uma habilidade focalizando demais em seus aspectos mentais em detrimento de seus aspectos físicos ou vice versa. Eu sei que muitos métodos de se executar piano, por exemplo, estão baseados em uma convicção na necessidade de que o pianista desenvolva dedos fortes. Meus próprios professores e outros com quem me encontrei acreditam firmemente nisto.
Desde os primeiros anos em que eu tentava incorporar os princípios de Alexander à execução no piano eu comecei a examinar esta suposição globalmente aceita. Gradualmente, conforme minha experiência com a Técnica se aprofundava, eu comecei a entender por que esta abordagem é tão predominante entre os diversos expoentes dos diversos métodos de execução pianística. Concertista e professora revê 30 anos de sua abordagem para a execução ao piano através da Técnica Alexander.
Eu observei todo o ciclo de causa e efeito que reside na raiz desta suposição popular entre pianistas que estão convencidos de que para adquirir uma técnica realmente boa a pessoa deve desenvolver dedos fisicamente fortes. Sem dúvida há uma relação específica que um pianista estabelece entre o contato de seus dedos com as teclas e o som que o instrumento produz. Graus variados de ímpeto com que os movimentos de dedos do pianista pressionam as teclas resultam em uma escala variável de volume e qualidade tonal que ele obtém do piano.
É interessante que, quanto mais o pianista incorre em mau uso segundo os preceitos da Técnica Alexander, mais ele limita a escala de resposta obtida do instrumento. Ao tentar superar esta limitação, o pianista trabalha mais para ‘extrair’ mais do instrumento usando pura força. Assim ele aumenta seu mau uso, criando tensões e interferências crescentes no que Alexander chamou de Controle Primário. Quanto mais o mau uso se estabelece, mais o pianista sente que precisa trabalhar. Quanto mais ele trabalha, mais tensão física ele usa; mais ele se vê preso a uma experiência de lutar com a resistência das teclas, e desta forma se convence de que tem que desenvolver força nos dedos. Assim se firma um círculo vicioso
de mau uso crescente e muitas dificuldades se estabelecem.
Entre os pianistas a quem já ensinei, uma vez veio me procurar um jovem músico muito talentoso que tinha desistido de se apresentar por causa de problemas como dores no braço e rigidez muscular que esta vigorosa abordagem tinha criado para ele. Seus professores lhe haviam falado que a única solução para ele era “passar pela barreira da dor" (o que quer que isso pudesse significar!). Este é um exemplo do círculo vicioso fechado criado ao se abordar o desenvolvimento de uma habilidade baseando-se em premissas que ignoram os fatos sobre nossa coordenação descobertos por Alexander.
Refletir sobre os anos que empreguei na busca - e frequentemente esforço - para incorporar os princípios de Alexander em meu próprio trabalho como um pianista, traz recordações de descobertas "grandiosas", no entanto incrivelmente simples; como também momentos de questionamentos e sérias dúvidas. Quando primeiro a encontrei, a Técnica de Alexander me proporcionou uma experiência extática de liberação ao tocar. Era como caminhar nas nuvens. Eu quase não podia acreditar que executar pudesse acontecer com tanta facilidade. Parecia que todos os problemas haviam sido resolvidos e todas as perguntas respondidas por esta Técnica milagrosa.
Àquele ponto, tudo o que eu havia aprendido de meus professores de piano sobre técnica para o piano parecia, à luz do trabalho de Alexander, sem valor, Eu rejeitei o conjunto de todas as ideias sobre o que era necessário se trabalhar para se adquirir uma boa técnica de piano -- "...rios não mais eram rios, e montanhas não mais eram montanhas...", eu pensei na ocasião que bastava ser eficiente em projetar as direções de Alexander, e o restante da execução pianista cuidaria de si mesmo.
Concertista e professora revê 30 anos de sua abordagem para a execução ao piano através da Técnica Alexander. Como esta experiência inicial da técnica fez com que eu rejeitasse tudo que tinha aprendido previamente, “o bebê foi jogado fora com a água do banho" fui dominado por um entusiasmo absoluto pelo efeito libertador da Técnica, e inocentemente acreditei que uma mudança em meu uso bastaria para lidar com todos os desafios ao piano.
Continuei a treinar com a professora da Técnica, e durante o primeiro ano executei e pratiquei apenas esporadicamente. Então eu comecei a perceber que a exaltação inicial estava cedendo lugar a uma indagação real de como estabelecer um modo mais permanente de executar que fosse tão livre de qualquer tensão e esforço físico como era no princípio. Eu comecei a ver que muito do que constituía meu modo de trabalhar a execução ao piano estava baseado em princípios que eram bem diferente dos ensinamentos de Alexander. Nenhum destes princípios utilizava qualquer conhecimento da integridade do uso do executante como um todo. Também ficou cada vez mais aparente que a sublime experiência de liberdade não estava arraigada em nada que já era meu, mas, transmitida momentaneamente a mim por meu professor da Técnica Alexander.
Esta liberdade era “emprestada" por alguns momentos, e só através do intermédio de suas hábeis mãos.
Onde estava então algo de meu? Eu sabia sobre como ‘dar direções’, contudo, quando era a hora de tocar o piano, as ‘direções' que eu dava não pareciam ter o efeito desejado. Parecia que algo mais era necessário.
Gradualmente, conforme eu retomei meu comprometimento com a execução pianista e tive que preparar repertórios para apresentações, vários maus hábitos antigos começaram a vir à tona novamente. Minha confiança total na onipotência da Técnica para prover todas as soluções para as dificuldades na execução ao piano começou a ser obscurecida por sombras de dúvidas. Eu tive que executar um repertório variado e tive que esmiuçar passagens de música que requeriam muita habilidade ao piano. Mas naquele momento me achei indecisa entre dois modos: o velho modo de lidar com as extensões mais difíceis de música, o qual não mais me convencia, e o novo modo... Mas o que era o novo modo? Simplesmente dar direções não estava ajudando a elucidar um texto musical complexo e me permitindo executá-lo com fluência.
Nesta situação eu comecei a examinar cuidadosamente todas as etapas e componentes do ato de tocar piano. A Técnica Alexander inadvertidamente me colocou no caminho da observação e busca por um modo de executar baseado em 'não-fazer'. Tocar, afinal de contas, é um 'fazer’ bem definido. Não há como fugir deste fato. O que se buscava era um modo diferente da maneira habitual de ‘fazer'. Eu comecei a examinar os aspectos da execução pianista que eu conhecia, e retornei a algumas questões básicas: O que é necessário para se obter um som de uma tecla? O que é o mínimo dos mínimos que precisa ser 'feito' para se produzir som? Como eu posso manter minha consciência do Controle Primordial durante tal atividade? Destes pontos elementares eu continuei com mais e mais perguntas relativas a muitas áreas da *execução pianista.
Comecei a ver que não deveria haver nenhuma mudança milagrosa súbita em minha execução ao piano. Havia, no entanto, uma possibilidade de uma mudança profunda, mas ela teria que ser alcançada lentamente com muita paciência e extrema clareza do procedimento.
A Técnica Alexander é um processo. Seus benefícios permanentes ficam evidentes gradualmente. Este processo provou não ser um caminho tranquilo e suave adiante. Encontrei muitos momentos de decepção quando o que eu esperava que acontecesse em minha execução não acontecia - especialmente
durante apresentações. Cada vez que me deparava com tais decepções, dúvidas surgiam quanto à real eficácia dos princípios de Alexander em relação a fazer música ao piano. Mas a cada vez eu tomava mais coragem e seguia adiante em minha busca.
Afinal de contas, os ensinamentos de Alexander faziam mais sentido que todas as outras maneiras que eu conheci. O problema tornava-se cada vez mais óbvio - "não é fácil mudar os velhos hábitos". E eu testemunhei a incômoda veracidade desta declaração repetidas vezes. Porém, não fazia sentido eu me distanciar do caminho que eu tinha escolhido. Tempo e persistência pareciam ser os únicos fatores que ofereciam qualquer esperança de alcançar mudanças duradouras. E o tempo e a persistência não frustraram minhas expectativas.
Eu continuei a aplicar os Princípios de Alexander de acordo com meu entender, o qual continuamente se modificava. Eu continuei observando e procurando entender o que eu e meus alunos realmente fazíamos em várias situações de maior exigência ao piano. O processo tornou-se de constante confrontos e tentativas de dissolver os velhos padrões persistentes de resposta ao tocar. Ir descobrindo aos poucos que 'não fazer’ substituía gradualmente a procura habitual sobre 'o que fazer'.
Por este processo gradual de ir clareando o caminho à frente, eliminando os procedimentos mecânicos inconsistentes adotados por tantos pianistas, ficou cada vez mais evidente que a atenção consciente, como empregada na Técnica Alexander, oferecia novas ferramentas para uma técnica total de se executar piano.
Ela permitia que o executante reunisse vários elementos, como toda a imagem musical de uma composição e a realidade ativa da sua execução, em uma experiência completa. Vários pontos que lentamente foram se tornando claros e simples gradualmente começavam a se relacionar.
Com o tempo, certas maneiras que pareceram enganosas no princípio da procura se tomaram parte de minha experiência cotidiana de tocar. Sempre que eu percebia que uma destas mudanças tinha ocorrido, minha coragem e confiança em persistir neste caminho cresciam. Hoje em dia já passei a contar com alguns destes pontos, como eu mencionei mais cedo. Por exemplo: Eu sei agora sem sombra de dúvida que não é a ‘força física’ dos dedos que me ajuda a produzir um grande volume de som ao piano; sei sem dúvida que não é através de um número interminável de repetições mecânicas que alguma passagem musical será bem aprendida; também estou convencido através de experiência direta que não é o corpo que tem que superar dificuldades técnicas de execução mecanicamente.
Estes, e vários outros aspectos de tocar piano, eu agora vejo sob uma nova perspectiva graças aos anos de execução pianística seguindo a abordagem da Técnica Alexander. A frequentemente irrefletida e monótona rotina de praticar deixou de ser meu modo de trabalho. Exercícios de fortalecimento dos dedos e de alongamento dos músculos não são parte de minha abordagem em relação a técnica de piano. Para mim eles são procedimentos cegos e enfadonhos, e acima de tudo muito menos eficazes do que uma abordagem que requer um constante estado de alerta e - tanto quanto for possível a cada momento - uma consciência clara de ‘como’ e ‘o que’ a pessoa está realmente fazendo ao executar ao piano. Isto inevitavelmente conduz a uma diminuição acentuada do fazer físico e encoraja um escutar mais atento.
E assim depois de trinta anos de trabalho em direção a uma integração do processo de Alexander aplicado à execução ao piano, não há para mim mais exaltações dramáticas, mas uma sensação estável de ida em uma direção que cada vez mais revela sua abrangência e sua veracidade a cada ano que passa. Até agora já acumulei bastante evidência de seu valor prático e estou interessada por qualquer nova compreensão com que possa me deparar ao continuar seguindo nesta direção. Agora, trinta anos depois, eu vejo, mas com uma visão nova, que “Rios são Rios e Montanhas são Montanhas “.
Nelly Ben-Or é pianista reconhecida internacionalmente que se diplomou na Técnica Alexander com Patrick Macdonald em 1963. E professora de piano e de Técnica Alexander na Guildhall School oj Music and Drama em Londres, Faz gravações para a BBC e outras estações de rádio além de apresentar-se ao redor do mundo. Gravou vários discos de música de câmara e solo para piano pela Meridian Records.
